A exposição caxias verde: olhares de encantamento apresenta um mosaico de imagens fotográficas das unidades de conservação do município de Duque de Caxias. Pretende, a partir da contemplação das belezas naturais, sensibilizar o observador para a emergência da preservação dessas Unidades, ameaçadas pela expansão e exploração imobiliária, logística e industrial. Em tempos de mudanças climáticas, a preservação do verde, das florestas e das nascentes dos rios é condição fundamental para assegurar a sobrevivência humana no planeta.
Os registros aqui presentes foram realizados entre os anos de 2014 e 2022 pelo fotógrafo Filipo Tardim. Ao compartilhar com o público seus olhares andarilhos e reveladores das importâncias dos patrimônios ambientais, Filipo o convida a também lançar seus “olhares de encantamento” e cuidado sobre as belezas naturais da cidade.
Em algumas das fotos da exposição foi utilizada a técnica HDR que consiste na sobreposição de imagens com exposições diferentes (mais clara, normal e mais escura), a fim de proporcionar maior riqueza de detalhes.
é professor da Rede Municipal de Duque de Caxias, mestre em Letras pela UFRRJ, e militante da educação e meio ambiente. Há mais de 10 anos trabalha no Centro de Referência Patrimonial e Histórico do Município de Duque de Caxias (CRPH) e no Museu Vivo do São Bento (MVSB), atuando junto às equipes de comunicação e pesquisa, sobretudo na foto/filmagem de atividades da instituição e produção de documentários. Sua primeira exposição itinerante “Lentes da Memória: Olhares Fotográficos de Filipo Tardim”, lançada em 2015, foi idealizada com o objetivo de mostrar registros fotográficos que buscavam reverter a visão estigmatizada da Baixada como lugar da violência e pobreza, de modo a valorizar a identidade e a cultura local. Recebeu prêmios por suas fotografias na Mostra Olhares Sobre O Patrimônio Fluminense em 2019 e 2021.
A APA São Bento é a primeira unidade de conservação criada no município de Duque de Caxias, através do decreto nº 3.020 de 05 de junho de 1997, com o objetivo de proteger o entorno do conjunto arquitetônico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), evitando a descaracterização do mesmo e preservando a memória histórica do município (Puggian, 2015, p. 123). Está localizada no 2º distrito, no bairro de mesmo nome, entre os rios Iguaçu e Sarapuí.
Sítio arqueológico localizado dentro da área da APA, com vestígios dos primeiros habitantes da região, há 5000 anos antes do presente. Faz parte do percurso do Museu Vivo do São Bento.
A foto, que mostra as conchas do sambaqui, dialoga com a fotografia “Conchinhas”, da exposição “Lentes da Memória: Olhares Fotográficos de Filipo Tardim” , de 2015.
Localizado no Jardim Primavera, no 2º Distrito de Duque de Caxias, o Parque surge a partir do desejo da Associação dos Moradores Vila Ideal, na década de 90, de preservar o Morro da Caixa D’Água da especulação imobiliária, já crescente naquela época, e também para minimizar os impactos da poluição do ar proveniente da Reduc. Criado como APA, a partir do decreto nº 2238 de 1991, torna-se Parque Natural Municipal através do decreto 5.486 de 18 de novembro de 2008.
Unidade de conservação localizada no terceiro distrito, criada pelo Decreto Municipal nº 5.738 de dezembro de 2009, com o objetivo de “assegurar a preservação do equilíbrio natural da diversidade biológica, dos processos ecológicos naturais e do remanescente de Mata Atlântica existente na área” (MAIA, 2014, p. 79).
Desde sua criação, o perímetro da Rebio tem sido diminuído na Câmara de Vereadores para favorecer a forte especulação imobiliária (venda de lotes). Também foi retirada da Rebio uma área denominada “Monte do Azeite”, onde grupos religiosos utilizam o espaço para fazer suas orações, geralmente a noite. Com isso, alguns clarões já foram abertos na área de mata com fins de acampamento e fogueiras.
Além da floresta e da fauna, há muitas nascentes na unidade, o que faz com que sua preservação seja de extrema importância.
O sagui-de-tufos-brancos (callithrix jacchus) é uma espécie de primata que pode ser encontrada na REBIO Equitativa. Geralmetne andam em bandos e se alimentam, dentre outras coisas, de ovos e até filhotes de pássaros, o que acaba sendo uma ameaça às aves da Reserva.
Com o aumento da especulação imobiliária no bairro, as aparições dos saguis ficaram mais raras.
“Seu” Bento foi morador do Parque Equitativa por mais de 50 anos. Executava principalmente serviços de conserto na rede elétrica que, naquele tempo, era muito precária no bairro.
Foi presidente a associação de moradores e lutou ativamente junto ao Ministério Público contra a instalação de uma mineradora em nossas matas. Sua personalidade humilde, sempre alegre e otimista conquistou a todos que o conheceram. Faleceu em 2010, com 85 anos. (Fonte: https://www.abaixoassinado.org/ abaixoassinados/8509)
Em sua homenagem, os moradores solicitaram junto à Prefeitura que a nova praça, inaugurada em 2012, recebesse seu nome. Ela abriga a sede da REBIO e é bastante utilizada pela população, sobretudo por grupos religiosos que sobem pela mata até uma parte mais elevada para fazerem suas orações. Devido a isso, a praça também é conhecida como “Praça do Monte”.
Das Unidades de Conservação a nível municipal, Taquara é a única que possui cachoeira própria para banho. Foi criada pelo Decreto Municipal nº 1.157, de 11 de dezembro de 1992, e recentemente passou um ano e meio fechado por causa da pandemia de Covid-19, reabrindo ao público em agosto de 2021.
O poço da serpente é o último do Parque, já na divisa com a APA Petrópolis. Por ficar mais distante, não recebe tantos visitantes, o que além de preservar a fauna, o deixa com uma água cristalina. Na foto, o caranguejo-de-água-doce (trichodactylus fluviatilis) parece andar sobre areia seca, mas na verdade ele está submerso, fato que pode ser minuciosamente observado a partir das pedras que estão parcialmente fora da água.
Ao visitar o PNMT, o visitante pode ter boas surpresas, como avistar um bicho-preguiça (bradypus variegatus) “fofoqueiro” se debruçando sobre o muro para ver quem está passando.
Esse registro inusitado foi feito em 2014 na Estrada Cachoeira das Dores, pouco antes da entrada do Parque.
Desde a sua fundação, em 1992, o Parque Natural Municipal da Taquara já passou por diversas gestões, que não deram o devido cuidado que a unidade merecia. Os quiosques foram entregues para moradores locais, que em períodos frios e secos, não possuem nenhuma medida compensatória por parte da prefeitura para subsistir. Quadro que foi ainda mais agravado com a pandemia de covid-19, quando o Parque ficou fechado por mais de um ano e meio. Fechados, os quiosques sofreram depredação nesse período.
Já os banheiros, cuja administração é da Prefeitura, encontram-se em estado de ruínas já há alguns anos. E com a pandemia, o estado de abandono só piorou. A foto foi tirada logo após a reabertura, em agosto de 2021.
“Compreendido entre a loclidade onde fica a Fábrica Nova América¹, no município de Duque de Caxias, e o Alto do Imperador, no bairro Independência, na cidade de Petrópolis, tendo antes passado pela rodovia Washington Luis, em ponto próximo ao limite dos municípios de Magé² e Petrópolis. Era uma variante do Caminho de Inhomirim, que, partindo o Porto da Estrela, à margem do rio Inhomirim, ia se encontrar com o Caminho Novo de Garcia Rodrigues Paes, na proximidade do rio Paraíba do Sul. Seu trajeto passava pela região que naquela época era conhecida como Córrego Seco, hoje Petrópolis, onde a Estrada do Taquara terminava.” (INEPAC)
Em 2018, um grupo de moradores abriu uma trilha num trecho do caminho que se encontrava fechado pela mata atlântica. Assim, foi possível percorrer a chamada “travessia Taquara-Petrópolis”, uma caminhada de aproximadamente três horas e meia, que começa no PNMT e termina próximo do Km 87 da BR-040.
Atualmente a administração do Parque realiza essa trilha mediante agendamento.
¹ Atualmente fábrica da Coca-Cola;
² A Washington Luis não passa pelo município de Magé, e sim por Duque de Caxias (ver “Tinguá, Subida da Serra”).
A Reserva Biológica do Tinguá é uma unidade de conservação federal, que envolve os municípios de Duque de Caxias (Xerém), Nova Iguaçu, Petrópolis e Miguel Pereira. Foi criada pelo Decreto nº 97.780, de 23 de maio de 1989.
Possui sede no município de Nova Iguaçu, no bairro de mesmo nome, e é administrada pelo ICMBIO, onde só é possível adentrar mediante autorização. Mas em Xerém a população em geral frequenta, sem muitos problemas, a cachoeira, adentrando pelo território da Rebio através do leito do rio, para alcançar poços e quedas d’água mais distantes.
A cachoeira do Garrão fica em Xerém, acima da represa que abastece a Petrobrás (fotografia “Garrão”, da primeira exposição, de 2015), em um território administrado pela CEDAE. Trata-se do Rio Saracuruna, que próximo de suas nascentes, possui águas cristalinas e é bastante procurado pela população no verão.
Obs: Foto vencedora do Concurso #AmoMuitoABaixada – Duque de Caxias, promovido pela Transportes Flores.
Em outubro de 1698, a Coroa portuguesa, atendendo à recomendação do governador, aceitou a contratação de Garcia Rodrigues Paes para a construção de um novo caminho que seria aberto à sua custa, recebendo em troca, sesmarias e outras mercês. Neste período, Garcia Paes tinha duas roças, uma às margens do rio Paraibuna e outra na Borba do Campo. Em 1700, a picada para pedestres estava aberta. A nova via passava, segundo Antonil, pela freguesia de Nossa Senhora do Pilar (fotografia “Pilar”, da primeira exposição, de 2015), pelo sítio de Manuel Couto, e pela roça do Alferes. (INEPAC 2004, p. 41)
O Caminho Novo, assim denominado para diferenciar-se da antiga rota, iniciava-se na foz do rio Iguaçu, na baía de Guanabara; a seguir, passava-se por Xerém, subindo a Serra do Couto e indo às roças do capitão Marcos da Costa e do Alferes (atual Paty do Alferes). (INEPAC 2004, p. 8)
Aberto o Caminho Novo de Rodrigues Paes por volta de 1700 e com o fluxo de ouro tomando proporções fora do controle fiscal da Coroa Portuguesa, esta proíbe o uso da estrada de Paraty. Em 1715 é solicitada pelos vereadores da Vila a reabertura do caminho, no que são atendidos. A estrada nova via Duque de Caxias era considerada muito erma, sem qualquer infraestrutura, e a de Paraty, já utilizada a mais tempo, oferecia maiores “comodidades” às tropas (INEPAC 2004, p. 127). O caminho (de Garcia Paes) era muito deserto, com poucos pousos e ranchos. Seu maior problema residia na transposição da íngreme Serra do Couto, quase impraticável às tropas (OLIVEIRA, 1985). (INEPAC 2004, p. 40).
A Pedra do Couto, conhecida também como Pico de Congonhas, servia de referência aos viajantes que percorriam o Caminho de Garcia Paes até Minas Gerais. É também o ponto culminante de Duque de Caxias, tendo mais de 1700m.
Apesar de ter sido registrada já no território de Petrópolis, a fotografia mostra uma vista panorâmica da serra caxiense, com destaque para a Rod Washingon Luis (BR-040) e Pico do Couto ao fundo, em ângulo diferente do retratado na fotografia anterior.
Este ponto fica próximo ao final da travessia Taquara-Petrópolis. Para mais informações, consulte o verbete da fotografia “Taquara, Variante Caminho do Ouro”.
equipe do Museu Vivo do São Bento (MVSB) / Centro de Referência Patrimonial e Histórico do Município de Duque de Caxias (CRPH)
Antônio Augusto Braz, Arilson Mendes Sá, Daiana da Silva de Oliveira, Débora Cristina Vieira, Debora Nunes Cavalcanti, Deise Guilhermina da Conceição, Filipo da Silva Tardim, Flavia Andreia Paes Leite, Joice Alves de Oliveira, José Carlos Gonçalves Gaspar, Luís Carlos Terras Maciel, Marlucia Santos de Souza, Mateus Lucas de Moura Amaral, Nielson Rosa Bezerra, Paulo Pedro da Silva, Rodrigo Henrique Teodoro de Oliveira e Rosenilda Santos da Silva
curadoria
Filipo da Silva Tardim e Marlucia Santos de Souza
fotos
Filipo da Silva Tardim
texto
Filipo da Silva Tardim e Marlucia Santos de Souza
revisão
Flavia Andreia Leite
design gráfico
Leear Martiniano
fontes
Indicação do nome Praça Bento Antônio da Silva no bairro P Eqitativa. Disponível em <https://www.abaixoassinado. org/abaixoassinados/8509> Acesso em 02 de jun de 2022.
INEPAC. Caminhos de Minas: trecho da Estrada do Taquara. Disponível em <http://www.inepac.rj.gov.br/index.php/ bens_tombados/detalhar/84>. Acesso em 07 de jun de 2022.
INEPAC. Caminho Novo: a transferência da rota do ouro para o recôncavo guanabarino. In Pesquisa Histórica e Banco de Dados: Ouro, Café, Açúcar, Sal. Rio de Janeiro: Sebrae, 2004. Disponível em <https://bibliotecas.sebrae.com.br/ chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/ bds.nsf/AD8FB9AC048ABDB68325735 C004C7BCD/$File/NT0003611E.pdf>. Acesso em 09 de jun de 2022.
INEPAC. Caminho Novo do Ouro. In Ouro. Rio de Janeiro: Sebrae, 2004. Disponível em <https://bibliotecas.sebrae.com.br/ chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/ bds.nsf/B5DD5D10EB02DC6C8325735C 004E9CC5/$File/NT0003613A.pdf>. Acesso em 09 de jun de 2022.
INEPAC. Os Caminhos do Café. In Café. Rio de Janeiro: Sebrae, 2004. Disponível em <https://bibliotecas.sebrae.com.br/ chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/ bds.nsf/F75904E1097E26CB8325735C 004DC711/$File/NT0003612E.pdf>. Acesso em 09 de jun de 2022.
MAIA, Samuel. Unidades de Conservação: Com um estudo dedicado à Reserva Biológica Equitativa. Duque de Caxias, RJ: Esteio Editora, 2014.
TARDIM, Filipo. O Parque Natural Municipal da Taquara reabriu… Disponível em <https://lurdinha.org/site/o-parque-natural-municipal-da-taquara-reabriu/>. Acesso em 09 de junho de 2022.
TARDIM, Filipo. Parque Equitativa: um bairro bucólico cada vez mais urbano. Disponível em <https://lurdinha.org/site/parque-equitativa-um-bairro-bucolico-cada-vez-mais-urbano/>. Acesso em 26 de maio de 2022.
TENREIRO, André (organizador); PUGGIAN, Cleonice (et al.). Duque de Caxias: a Geografia de um espaço desigual. Nova Iguaçu, RJ: Editora Entorno, 2015.
Museu Vivo do São Bento
Rua Benjamin da Rocha Junior, s/n, São Bento, Duque de Caxias, RJ
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